Quem se lembra dessa música, de Guarabira
e Rodrix?
"Com
o olhar de quem chorou
Sentou-se a mesa dos seus pais
Ninguém sequer lhe perguntou
O que é que houve?
O que é que há?...”
Sentou-se a mesa dos seus pais
Ninguém sequer lhe perguntou
O que é que houve?
O que é que há?...”
Pois bem, foi essa a pergunta que me veio à cabeça quando
reli minha última publicação. Parece que faltou uma explicação: afinal o que é
que houve? O que é que há, que me sinto tão solitária e sem ambiente em meu
ambiente? A resposta, os jornais e revistas oferecem todo dia. E não é uma
resposta, uma situação, são muitas as razões para o desencanto:
- Neste ano, até 06 de maio, 20 pessoas, muitas
completamente inocentes, foram mortas em episódios de linchamentos públicos,
arrastadas, torturadas a chutes e pauladas, por alguma horda alucinada,
composta por pessoas comuns. Essas 20 mortes são o resultado mais chocante de
37 episódios registrados de justiçamentos públicos. Vítimas e algozes são, na
maioria das vezes, pobres.
- Um sem número de ônibus vem sendo depredado a cada
greve, a cada manifestação ou em cada protesto. Fica até difícil quantificar.
Na manhã de 13 de maio, 75 ônibus foram depredados por grevistas cariocas, o
mesmo havia acontecido com outros 320 ônibus no dia 08; no dia 16, passageiros
revoltados com uma greve de motoristas, em Goiânia, depredaram 27 ônibus; 35
ônibus depredados em Maceió, 25 em Florianópolis, 135 em São Paulo e a lista
não tem fim. Há no ar um prazer em depredar.
- Durante greve de policiais em Abreu e Lima, região
metropolitana do Recife - PE, no dia do feriado da emancipação do município,
uma multidão saqueou mais de 100 lojas, supermercados, caminhões de bebidas e
dos correios. Nos dias seguintes, quando a polícia divulgou que tinha imagens
dos episódios, muitos “arrependidos” devolveram, ou deixaram nas ruas,
eletrodomésticos furtados. O mesmo aconteceu em Jaboatão dos Guararapes e
Moreno. Ao todo, 234 pessoas foram detidas em flagrante. Saques de cargas de
caminhões acidentados ocorrem todo dia. Cerveja, micro-ondas, sorvete,
alumínio, farelo, cigarros, biscoitos, tudo se saqueia, aproveitando a
oportunidade.
- Grevistas e manifestantes adotaram o hábito de obstruir
o trânsito impedindo a livre circulação dos cidadãos que se dirigem ao
trabalho, sobrepondo o seu direito de protestar ao direito de ir e vir de
todos. Tudo é motivo para queimar pneus em rodovias e avenidas. Em Açailândia -
MA em protesto por constantes atropelamentos, em Maranguape - CE por falta de
água, em Estrutural - DF por melhorias na urbanização da região, em Salvador - BA
contra demolição de imóveis, em Ponta Grossa – PR para reivindicar construção
de trincheira rodoviária.
- No trânsito, parafraseando Caetano Veloso, somos uns
boçais. Digite “infrações de trânsito” no Google e vai encontrar notícias do
tipo 4.289 infrações em Juiz de Fora - MG em 4 meses, em Cascavel - PR foram mais
de 177.000 em 2013 e em Teresina foram registradas 1.311 infrações só em maio último.
Sem contar a descortesia, a agressividade e o egoísmo com que se comporta
grande parte dos motoristas nos engarrafamentos, cruzamentos e estacionamentos.
Basta dirigir por uma rodovia para ficar com medo dos semelhantes.
O que há é tudo isso e mais uma infinidade de espertezas,
omissões e ilegalidades, praticadas sem o menor constrangimento pelos mais
comuns mortais, com uma naturalidade de assustar.
O que há é que todas essas atitudes funestas são
praticadas por pessoas comuns desse povo. Um dia ou outro a gente acaba descobrindo
que convive com algum ou alguns sonegadores, corruptos ou corruptores,
aproveitadores, espertalhões e sabichões. Espantados, percebemos que são, em
atacado, o espelho em que se miram e os degraus pelos quais ascendem os políticos
corruptos e indecentes que sistematicamente nós, o povo, elegemos para nos
representar.
Com
o olhar de quem chorou
Sento-me a tua mesa
E espero que não me perguntes
O que é que houve?
O que é que há?...
Sento-me a tua mesa
E espero que não me perguntes
O que é que houve?
O que é que há?...
O
que houve podemos até discutir, mas o que há já está dito.